segunda-feira, 7 de março de 2011

09 de março de 2011

Leituras

         Joel 2,12-18. Rasgai o coração e não as vestes.
         Salmo 50/51,3-4.5-6a.12.13.14 e 17. Criai em mim um coração que seja puro.
         2Coríntios 5,20-6,2. É agora o momento favorável, é agora o dia da salvação.
         Mateus 6,1-6.16-18. Não toques a trombeta diante de ti.


TEU PAI, QUE VÊ O QUE ESTÁ OCULTO, TE DARÁ A RECOMPENSA


1- PONTO DE PARTIDA

Com a celebração de hoje iniciamos nossa caminhada quaresmal, preparando a grande festa da Páscoa do Senhor. Iniciamos fazendo gestos bem concretos como o jejum e a penitência pela imposição das cinzas, sinais que nos indicam que devemos neste tempo nos abrir para Deus e para os irmãos. A celebração e a imposição das cinzas lembram as palavras de Jesus: "Convertei-vos e crede no evangelho".

Receber as cinzas, nesta quarta-feira, significa confirmar nossa fé na Páscoa de Cristo, na reconciliação, na esperança de um dia estar na comunhão do Ressuscitado.

Celebramos neste dia o mistério do Deus misericordioso que acolhe nossa penitência e nossa reconciliação pela conversão que consiste em crer no Evangelho, ser discípulos missionários de Cristo e entrar no seu caminho pascal.

Começamos hoje a campanha da Fraternidade. Ela tem como tema: "Fraternidade e Vida no Planeta" e como lema: "A criação geme em dores de parto!" (Romanos 8,22).

2- REFLEXÃO BÍBLICO, EXEGÉTICA E LITÚRGICA

Primeira leitura - Joel 2,12-18. A Palavra de Deus, na primeira leitura, nos vem pelo profeta Joel. Em seu tempo, a região de Judá estava sofrendo grande calamidade causada pela inesperada praga de gafanhotos que acabara com as plantações. Os inimigos aproveitaram o sofrimento do povo para ironizar Deus.

Por meio dessa tragédia ecológica, o profeta ajuda o povo a perceber o convite de Deus para se converter e voltar-se para ele. A situação exige uma ação religiosa de expiação, uma jornada de jejum e penitência de toda a nação. A realidade ecológica colocada sob olhar de fé torna-se ambiente litúrgico e a praga de gafanhotos, "dia do Senhor": momento da história em que Deus intervém por meio da natureza. Nesse "dia" ele faz um julgamento público, corrigindo e salvando.

Para encontrar graça neste dia insuportável, é preciso converter-se e voltar ao Senhor. Não basta um ato externo e ritual, mas exige-se uma mudança de coração. O profeta Joel aqui o que Jesus resumirá mais tarde na frase: "Fazei penitência (em grego metanoein), porque o (Reino de Deus) está chegando". Se a pessoa humana voltar atrás, também Deus voltará atrás em seu rigor e mostrará que Ele é bom e compassivo.

A conversão do povo, a mudança de vida são condições para que a misericórdia do Senhor entre em ação. O profeta Joel diz que há sempre tempo para se converter, como está escrito em Dt 30,9-10: "[...] o Senhor teu Deus tornará a se alegrar contigo [...] se escutares a voz do Senhor teu Deus, guardando seus mandamentos e mandatos [...] se te converteres ao Senhor teu Deus com todo o coração e com toda a alma".

Salmo responsorial 50/51, 3-4.5-6a.12.13.14 e 17. O Salmo começa com o apelo à misericórdia, que inclui a confissão formal do pecado; este versículo é síntese ou germe do resto do Salmo. Começa a primeira parte, no reino do pecado, sem mencionar Deus. O pecador é um ato pessoal contra Deus, não mera violência de ordem abstrata.
           
O Salmo 51(50) é a súplica de uma pessoa que reconhece sua profunda miséria e seus pecados; que tem plena consciência da gravidade da própria culpa, pois quebrou a Aliança com o Senhor. São muitos os pedidos, mas todos se concentram em torno do primeiro: "Tem piedade de mim, ó Deus, por teu amor!".

No Primeiro Testamento este Salmo lembrava ao povo a misericórdia de Deus com Davi, apesar de seu grande pecado. Cantando hoje este salmo, peçamos que o Senhor tenha misericórdia de nós e nos ajude a viver em profunda comunhão com Ele e com os irmãos.

PIEDADE, Ó SENHOR, TENDE PIEDADE,
POIS PECAMOS CONTRA VÓS!

Segunda leitura - 2Coríntios 5,20-6,2. A comunidade de Corinto, além de conflitos internos, estava tendo dificuldades de relacionamento com Paulo. Ele então escreve a ela, lembrando que a comunidade é chamada a ser sinal de reconciliação de todas as pessoas com Deus. Cristo fez-se excluído por nós. Deus o colocou como Redentor dos pecadores. Paulo diz que somos embaixadores da misericórdia e do perdão de Deus neste tempo favorável. O tempo da reconciliação é agora; é agora o dia da salvação. Nós somos responsáveis por isso.

A mudança situa-se somente da parte dos reconciliados, reconduzidos á comunhão e à amizade com Deus por meio de Jesus Cristo. Mediante a pregação Deus estende a mão a todos. E Paulo suplica: "Deixem que Deus os transforme de inimigos em seus amigos" (versículo 20). Suplica também: "Não deixem que se perca a graça de Deus que vocês já receberam" (versículo 27). Aqui aparece a outra face da moeda. Deus não age sozinho. A pessoa humana não se salva apesar de si mesma. A pessoa humana encontra-se diante da possibilidade de se abrir e de se fechar, de dar ou não dar resposta à proposta de Deus. São possibilidades de sua liberdade de sua responsabilidade, decisivas para sua sorte eterna.  

Evangelho - Mateus 6,1-6.16-18. O Evangelho de hoje faz parte do grande Sermão da Montanha, narrado por Mateus (5-7). Ele reúne sentenças de Jesus em um discurso inaugural, uma grande didakhé. É o apelo que Jesus dirige a quem quer segui-lo; é o manifesto do Messias Jesus, Salvador. Nele encontramos novas normas para seu seguimento, com a recomendação de fazermos "brilhar a luz diante da humanidade, para que vendo as obras, glorifiquem o Pai" (Mateus 5,16).

Na Palavra de hoje, a recomendação é agir, porém não com a finalidade de ser aplaudido pelos outros. A norma de ser luz fala da conseqüência da atitude de quem segue Jesus. Hoje ouvimos a proposta de retorno a Deus, que propõe três ações básicas: a oração, o jejum e a esmola. Nas palavras de Jesus, o mais importante não é o gesto externo, e sim a atitude interior com a qual realizamos nossas ações.

Este Evangelho toca num ponto fraco de nossa maneira de ser e viver: a tendência de "praticar a justiça para sermos vistos...". Assim, a oração é diálogo permanente com Deus, a escuta profunda da sua Palavra e não mera exterioridade, com repetição contínua de nossas próprias palavras. A oração nos ajuda a enxergar a realidade com os "olhos" de Deus e nos abre a um compromisso fraterno e solidário com a vida e a dignidade de todas as pessoas, vendo em todas elas a imagem de Jesus, nosso irmão. Aqui a oração é pessoal, e não a oração comunitária necessariamente pública, perante a assembléia. Os salmos falam da oração na cama (cf. Sl 4,5; 7,2-5), de súplicas de doentes (cf. Sl 6;38). Jesus fala da oração que ele mesmo praticou ao se retirar, à noite ou de madrugada, para se encontrar com o Pai face a face, em particular, porque Deus não está confinado no templo mas presente em toda parte. Não se deve converter a oração em espetáculo. É estranho e mentiroso parecer que se louva a Deus para glória própria.

O jejum, na época de Jesus, podia ser voluntário ou prescrito. Podia ser público por causa de alguma calamidade, conforme o profeta Joel, ou privado, acompanhando uma súplica pessoal. Há o jejum ritual do dia da expiação que recebe a crítica e indignação de Isaías. Para o profeta (cf Is 58,1-7), o jejum consiste em libertar os prisioneiros, acabar com a opressão, partilhar nossos bens com os mais pobres e acolhê-los como irmãos. Isso exige de nós o jejum da auto-suficiência, do desejo de dominar e de acumular, que nos distancia do projeto de Deus, Jejum é a prática da Justiça.

A esmola é muito recomendada no Antigo Testamento. O livro de Provérbios 19,7 diz que "quem se compadece do pobre empresta ao Senhor". Jesus não fala dela, mas fala de "um copo de água" dado em seu nome e de que seremos julgados pelo preceito capital do amor ao próximo. Os pequenos são irmãos de Jesus e tudo que fizermos ao faminto, ao nu, ao sedento, ao peregrino... Estaremos fazendo a ele. É mais que esmola. É amor fraterno, irmandade.

0 comentários:

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

BÍBLIA CATÓLICA ONLINE

 
©2007 Elke di Barros Por Templates e Acessorios